Eu, alugado


Eu moro isolado

Eu vivo sozinho

Eu canto calado

Eu rio pouquinho

Eu choro fininho

Eu lembro assombrado

Eu sinto tinindo

Eu corro cansado

Eu amo o escurinho

Eu vi o finado

Eu louvei o finzinho

Eu fera tomado

Eu bico de espinho

Eu guloso da vida

Eu todo danado

Eu menti pouquinho

Eu coisa sofrida

Eu mato tomado

Eu faca escondida

Eu zero todinho

Eu glosa banida

Eu me kafkado

Eu todo todinho

Eu infelizardo.


Mas lembro esse encanto

Mas canto esse frio

E a noite renova

Renova esse rio

E agora eu grito

O grito da vida

O grito do frio

A alegria do rio

De estar nesta vida

Cantando meu frio

Sofrido e cruel

Temendo o rio

De amor e de mel

De fé sem descanso

Tal coisa sem manto

Tal vida sem fel

Tal coisa de espanto

Tal ser em espanto

Tal eu todo sem fel

Tal eu de aluguel