Apenas mais um menino triste
E então o mísero infante,
salvo da inanição pelas grandes unhas descoloridas
e condenado à embriagante rotina hereditária,
pergunta baixinho à mãe:
━ Mãi,quiéquiupaitáfazenoagora?
E a voz dulcíssima,
apesar de tão fraca de sentido,
inquieta a mãe, sentada
no destino de sofrer
silenciosamente.
━ Tábebeno,fio.
Fecham-se os olhos do menino,
para dentro,
para compreender
o que nele ainda não existe.
━ Epruquêopaibebe?
E os olhos da mãe se estendem para além
da janela aberta no meio da noite
do horizonte sem linha e sem amanhã.
E não há tempo nem espaço
para descrever aquela desolação
nos olhos e no coração
da mãe que é pai e é filha e é irmã e é alguém
e não é nada.
━ Pruquêavidaétriste,fio.
E então o menino passa um taquinho da eternidade
olhando
a escuridão da noite.
E, num rasgo de infantil alegoria:
━ Epruquêôcênumbebe?
E houve um silêncio
bem miudinho
que perdurou
até a escandalosa
omissão de todas as coisas
sanguíneas e cansadas
de costumeiras lembranças
de outroras e ainda hoje
entristecidas.
E o miúdo silêncio
rasgou o horizonte
do espaço
e esquartejou a eternidade
do tempo
em vinte e nove
tilintantes pedaços.