A coisa
Nascida de epopeias,
de planos e de ideias,
de mistérios sob coisas,
de coisas sob mistérios,
de dores esverdeadas,
de mentiras arrependidas,
de elipses redescobertas,
de desejos diluídos
em sons, arquejos,
sutilezas, estandartes,
coloridas emoções,
gravíssimas visões.
Abençoada, saudável e prazerosa.
Amaldiçoada, podre e degradante.
O trapézio e as ximbras,
as madeixas e as tulipas,
essas pitombas e aqueles trovões,
todas as coisas atemporais
e as falecidas amorosidades
são partes inalienáveis
das aprisionadas memórias
numa ideia morta
chamada, dita, vida.
A vida não é isso,
não é memória,
não é o amanhã,
não é o agora.
A vida também não é
um parto, um trabalho e um descanso.
A vida, essa coisa abstrata
e amarrada a culhões e vaginas,
Não é eu te amo, mas te esquecerei em breve,
Nem é o banal "para sempre te amarei".
Não é, meu bem, coisa pesada ou leve.
A vida é apenas
a degustação
levianamente sensata
de morrer lentamente.