Palavras mortas
Escrevo palavras mortas
para educar minha tristeza,
transformá-la numa mentira,
domar sua fúria,
suavizar seus lamentos,
parar com essa arte
de sofrer em demasia.
Mortas, como a vida de tantos homens,
como a minha, que morreu
num poema que li,
e que dizia:
"Tenho saudade de mim mesmo...".
Escrevo a morte de minhas palavras
nessa tristeza desesperada
de uma furiosa solidão
que é inteira em verdade,
mais até que a Morte,
que falsamente vive a alegrar-se
de nunca ter saudade de si mesma.
Às vezes
Não é meu o canto alegre da vida.
Sou levado por ritmos
que se intercalam
entre,
dos meus olhos, a tristeza,
e, da minha boca, o silêncio.
Às vezes, frequentemente,
estendo-me em versos
que destoam
da verdadeira poesia.
Às vezes me recolho
em linhas finitas.
Às vezes é quase sempre
esse sempre às vezes.