Escrever
Sobre todas as coisas causais,
direi apenas que esquivo estive
quando cada morte
de algum homem comum
vestiu-se de suprema beleza.
Não tive, sobre todas as coisas,
causas esquivas de minha
suprema e bela morte,
vestida de homem comum
e de tempo.
Há pouco não escrevia,
olhava o gemido suave
das pétalas em meio ao vento.
E, pobre de mim!,
quem dera ser visto como as vejo,
ou ser ouvido como as ouço,
ou ser parcialmente esquecido
como as esqueço,
e ser chorado
como choro
por mim.
Versos que não li
Há versos que li,
outros que escrevi.
Há mais versos ainda
vivos, calados,
palavras encantadas
que não vieram de mim,
tampouco da minha solidão.
Há versos prontos
que nunca vi
(e nunca verei),
palavras silenciosas
guardadas para além
do meu caminhar solitário.
Há versos de luz
que nunca senti.
Há versos de morte,
partes de mim.
Há versos alheios
(sempre os mais belos)
ao tempo em que nasci,
ao tempo em que morri.