Velhos poemas


Velhos são esses poemas

que hoje escrevo com fastio.

Das palavras com que fio

só brotam novos dilemas.


Há uma ladainha

pouco perceptível

a mentes e olhos

demasiado poéticos.

E há uma eternidade

de coisas dentro do vazio

de todas as coisas.

O que é dito, já o foi.

O que é escrito, não vale mais.


E de tão toscamente antigos,

sem pais, amantes ou amigos,

esses poemas que distorcem

caminham, lamentam e morrem.


Mas são sinergias debilitantes,

sem lapidado fulgor, sem brilhantes,

de vilipendiada nostalgia

e de nebulosa escatologia.


No entanto,

é o prato do dia.

Hoje não há feijão de rama,

nem branquela carne que sangra,

apenas tênue fatia

de escarlate melancolia.


São velhos esses poemas,

apesar dos novos temas.

Graças ao meu tempo de partidos,

às coisas céleres de hoje em dia

e às pequenas orelhas dos livros

com sua inútil filosofia.


Se assim não fosse,

eu não escreveria.