Terapias


O primeiro me deu uma amostra grátis

de um sonífero amarelo profundo.

Dormi a perder de vista o mundo lá fora.

Para continuar a viver, suspendi o amarelinho.


O segundo me mandou fazer terapia.

Faltou dinheiro.


O terceiro receitou sonífero e terapia.

Tomei, dormi, conversei e cansei do papo.

Tava muito sonolento, ainda.


O quarto fez uma planilha para a catalogação

de todas as angústias e manias.

Preenchi no primeiro dia.

E só. Não virou mania.


O quinto disse:

rapaz, você é jovem, vá comer umas mulherzinhas que a vida vai melhorar.

Segui o conselho, mas a vida não melhorou.


O sexto resolveu me hipnotizar.

Lembrei de macabras histórias de hipnose e não deixei.


O sétimo era insistente.

A cada mês, um diagnóstico diferente:

depressão, TDA, bordeline, TOC, bipolar etc.

Uma TCC seria tiro e queda.

Mas achei impossível

me curar de tantas coisas.


O oitavo analisou minha íris

e fez um relato de cinco páginas.

Gostei do relatório.

Faltou pouco para adivinhar

a cor da minha roupa de baixo.

Umas ervas me salvariam.

São legais?, perguntei.

Ele queria me vender as ervas.

Desconfiei.


O nono mandou eu deitar no divã

e contar tudo, tudinho mesmo.

Tudo?

Contei dez por cento e já achei demais.

Ele nem era meu amigo!


O décimo tá marcado para amanhã.


Ser depressivo é muito cansativo!