Tecnologias


Sou adepto.

Meu aparelho não é mais um celular.

O mais insignificante dele

é permitir falar e escutar.

Meu tablet também fala. E responde.

Meu notebook é TV.

Perco horas todos os dias

trabalhando e brincando

com essas tecnologias.

Tenho cinco e-mails

e tô em três redes sociais.

Tenho um zap também.

E dezenas de amigos virtuais.

Recebo e-mails de 22 lojas on-line.

Meus amigos da rede reclamam,

mas parecem demasiado felizes,

as lojas nem ligam pra minha ausência,

e a vida virtual está

quase tão insossa

quanto a vida real.

O que ainda não entendo

é que nada disso

é mais prazeroso do que lidar

com os dilemas de Pessoa

as dores finais de Tchaikovsky,

as armadilhas de Machado,

a fúria infantilizada de Beethoven,

os calabouços de Dostoiévski,

a alegria trágica de Mozart

e a perplexidade de Clarice.


Isso não é normal.

Não é das normas do meu tempo.

Preciso fazer terapia.


Pode pela internet?