Quando voltei do bar


Quando voltei do bar

sabia que algo de lá

havia virado esquecido.

Joguei as chaves,

muitas e inúteis.

Tirei a camisa, os sapatos, a calça.

Banhado e sem fome,

pus-me a buscar

o que fora deixado

naquela espelunca de bar.

E a mente, tomada

de idade e de cerveja,

pegou-me pela mão

e sem perguntas ou permissão

levou-me à mesa do bar,

onde pouco antes sem pesar

o Amarildo contara piadas

de gays e de portugas.

O Digão mentiu pra caralho.

A garçonete se ofereceu ao Tavares.

O Benito, pobre coitado,

não se recuperou da última gaia.

O ventilador não dava conta

e todos reclamávamos.

E meu sono foi chegando.

E dormi sem saber

o que no bar havia deixado.

Agora que escrevo,

vejo, vejo em demasia.

Muito melhor seria

se tudo continuasse

esquecido, enterrado.