Proporção


Há quatro formas

de se fazer poemas.

Senta, espera e espera.

Um dia, a Musa,

apiedada de ti,

soprará por teus dedos

a coisa poética

acabada e pronta.

Mas a danada pode não se apiedar.


Ou então deves

seguir os estivadores.

Carrega os fardos

do mundo, do teu tempo

e sobretudo

das tuas leituras.

E alguma coisa

inacabada

surgirá aos teus olhos

famintos de existência.


E podes, ainda,

num ato de sábia displicência,

esperar, ler e reescrever.

Depois levanta

outros fardos,

relendo e reescrevendo

cada amargo ou doce taco

do teu espólio.

E terás uma coisa

parecida com poesia.


Por fim, cabe apenas

dizer que o poema

não se permite receita,

nem manual credenciado.

Se endoidares o suficiente,

terás as certezas da escuridão

e as incertezas do teu coração.

E poema algum será escrito.

E te porás a viver.

E, se à poesia teu coração pertencer,

vida nenhuma terá sentido

se poemas não escreveres.


Levanta-te, pois!

Põe-te a ler, escrever, reescrever e viver,

na ordem que bem entenderes.

Mas não te esqueças da matemática.

Proporção é tudo.