Bach
E Bach divinizou violetas ondas
sobre todos os mortais,
suave, doce e comovente,
acariciando tudo ao meu redor.
E as paredes eram painéis
de cores leves e tremulantes.
Meu chão ondulava
maciezas e ternuras azuis.
As cadeiras, os talheres, os livros.
Brinquedinhos soltos e encaracolados
em deslumbrantes planícies
de delicadas e cândidas infâncias.
E meus braços tomaram
minhas mãos,
e estas se elevaram
e roçaram nuvens grandes e alvas,
e estas pousaram em meus cabelos
e repousaram em meu tronco,
pernas e pés
plantados na leveza plena
de uma ária resgatada
de humanas ancestralidades.
E não havia mundo,
apenas lúdica e vasta pureza
e luz minh'alma tomando.
E só depois de gotículas de tempo
desfazerem-se em sublimidades,
depois de intensa felicidade,
depois de sutis refúgios e êxtases,
Bach se evaporou dos meus sentidos.
E a porra da vida voltou
à merdeza de sempre.