Poema de amor nº 15
E as ondas do riacho continuam
trazendo cenas de passados
de infâncias e reticências.
Uma guitarra a gemer sob a noite
e um pandeiro a introduzir o dia.
Não era tudo o que eu queria,
mas era o que, todos já sabem,
na vida foi-me dado em demasia.
E ela se derramava e se debatia
sob meninices e corrupções.
E ainda havia o que se escondia,
a corda, a escravidão
e no meio de tudo isso,
uma mulher de corpo imenso
e pronto à amamentação.
E saciava pretos e brancos,
pobres de marré e ricos de si,
engolindo tudo, tudo demasiado
presenteiro, longínquo e amargo.
Mas para ela era tudo
coisa de si mesma, coisa da vida.
E talvez eu tenha esquecido
que havia algum tipo
de amor em tudo aquilo.